Conto número 1
O Mago e o Caldeirão Saltitante

Como na série Harry Potter, no topo da primeira página do primeiro conto de fadas 'O Mago e o Caldeirão Saltitante' há um desenho, neste caso, um caldeirão, e na base um pé (com cinco dedos, caso você esteja pensando nisso, e sabemos que alguns de vocês estavam). Esta história começa suficientemente alegre, com um antigo assistente muito gentil, que lembra muito do nosso querido Dumbledore.

Este 'bem-amado' homem usava sua magia principalmente para o benefício de seus vizinhos, criando poções e antídotos para eles, e chamava isso de 'culinária de sorte'. Certo dia ele morre (após um longo tempo de vida), e deixa tudo para seu único filho. Infelizmente, o filho é bem diferente do pai (ele é bem parecido com Malfoy). Após a morte do pai, ele descobre o caldeirão, e nele (muito misteriosamente) há um único par de um sapato, e uma nota de seu pai: 'Devo crer, meu filho, que você nunca precise disso.' Após isso, as coisas começarem a correr mal...

Com raiva por não ter nada, apenas um caldeirão e completamente desinteressado com aqueles que não podem fazer mágica, o filho vira as costas para a cidade, e fecha as portas para os seus vizinhos. Primeiro, chega uma anciã cuja neta está infestada de verrugas. Quando ele bate a porta na sua cara, ele ouve um estrondo alto na cozinha. O caldeirão de seu pai criou um pé e ficou cheio de verrugas. Depois disso, o mago não podia aplicar nenhum feitiço nele e o caldeirão saltitante lhe perseguia em todos os lugares. No dia seguinte, o filho abre as portas para um velho homem que perdeu seu burro. Sem a sua ajuda para transportar produtos à cidade, a sua família vai passar fome. O filho (que claramente nunca leu contos de fada) bate a porta na cara do velho. E então, o caldeirão recebe outra modificação; ele agora relinchava de fome como um verdadeiro jumento. Como num verdadeiro conto de fada, o filho recebe cada vez mais visitantes, o que o leva a ver lágrimas, vômitos, até que decide dar continuidade ao seu legado. Renunciando aos modos egoístas, ele pede para que todos da cidade cheguem até ele para ajudá-los. Um a um, ele cura seus males e ao fazê-lo, o caldeirão se esvazia. Então, no final aparece o misterioso sapato que se encaixa perfeitamente no seu pé. Assim que o mago o põe, os dois caminham (e pulam) até um novo amanhecer.

Rowling tem feito suas histórias tão engraçadas quanto engenhosas, e 'O Mago e o Caldeirão Saltitante' não é exceção, a imagem de um caldeirão encantado exigindo que um jovem egoísta ajude os vizinhos, é um bom exemplo. Mas a verdadeira magia deste livro e desta história não reside apenas nos conjuntos de frases, mas na forma como ela sublinha o "clang, clang, clang" do caldeirão em destaque, bem como sua escrita manual que começa a ficar 'diferente' quando a história pega velocidade, como se ela correse junto com o leitor. Esses detalhes fazem dessa história exclusiva particularmente especial.


Conto número 2
A Fonte da Grande Fortuna
Tradução: Lucas Alves


Em destaque no topo do que pode ser um dos nossos favoritos contos, há uma fonte. Agora que já lemos 30 páginas do livro, se tornou evidente que Rowling goza (e é muito boa) em desenhar estrelas. O início e o fim da história aparece quase todo borrifado com 'poeria estrelar' (à la Peter-Pan). Esta primeira página de história também apresenta um pequeno arbusto que sobe do final da página e invade o texto. É muito bonito; como qualquer pessoa que tenha tentado pintar uma rosa sabe, não é fácil para desenhar - o que torna menos provável o fato de que Rowling tenha feito esse desenho apenas para encobrir um erro (o que algum de nós poderia fazer). É uma bela maneira de começar, e isso dá à 'A Fonte da Grande Fortuna' uma grande 'vida'. Talvez seja por essa razão que a história começa com um ar de grandiosidade, exuberância e de um misterioso conto de fadas: um encantado e um fechado jardim era protegido por uma forte mágica. Uma vez por ano, um 'infeliz' tem a oportunidade de encontrar o caminho para a fonte, tomar banho na água, e ganhar uma 'fortuna'. Sabendo que esta pode ser a única chance de realmente transformar suas vidas, as pessoas (com e sem poderes mágicos) fazem viagens longas para atingir o reino e tentar ganhar entrada para o jardim. E é ai que três bruxas se encontram e compartilham suas histórias. Uma delas, chamada Asha, é portadora de uma doença sem cura, e espera que a fonte possa restaurar sua saúde. A segunda é Altheda, que foi roubada e humilhada por um feiticeiro; ela espera que a fonte alivie seus sentimentos de desamparo e sua pobreza. A terceira bruxa, Amata foi abandonada pelo seu amado e espera que a fonte cure a tristeza e saúdade. Em apenas algumas páginas, Rowling não só criou um tremendo conto de fadas, mais um conflito muito interessante. As bruxas (bem parecidas com os personagens de nossa série favorita) decidiram que três cabeças pensam melhor que uma, e eles partilharam os seus conhecimentos para chegar a fonte juntas. À primeira luz, uma rachadura aparece na parede e as 'trepadeiras' do jardim se colocam em torno de Asha, a primeira bruxa. Ela se agarra com força a Altheda, que segura firme em Amata. Mas Amata fica enrolada na armadura de um cavaleiro, e como as vinhas arrastam Asha para dentro, todas as três bruxas juntamente com o cavaleiro são arrastadas através da parede e entram no jardim.

Quando só uma delas poderá se banhar na Fonte, as duas primeiras bruxas estão bravas que Amata descuidadosamente convidou outro concorrente. Sem poderes mágicos, reconhece as mulheres como bruxas, e é bem adaptado ao seu nome, 'Senhor Azarado', o cavaleiro anuncia a sua intenção de abandonar a viagem. Amata prontamente o desaprova por desistir e pede para juntar-se ao seu grupo. É impressionante ver que Rowling continua mostrando os temas de amizade e união tão presentes em sua série, sem citar a habilidade de criar personagens femininas, fortes e inteligentes. Nós lemos sete livros, apenas vendo Harry, que não havia problema em precisar da ajuda e do suporte dos amigos, e a mesma noção de dividir a responsabilidade e o fardo é ponto marcante neste conto.

Em sua jornada até a Fonte, o grupo enfrenta três desafios. Estamos em um território de contos familiares aqui, mas é a forte e simples imagem (um verme branco monstruoso, inchado e cego), e a maneira que os personagens colaboram para triunfar sobre a adversidade, que faz esta história uma leitura rica, e genuinamente Rowling. Primeiramente, enfrentam o verme que exige ‘a prova da sua dor’. Depois de inúmeras tentativas fracassadas de atacá-lo com magia e outras coisas, as lágrimas de frustração de Asha conseguem conter o verme, que os deixam passar. Depois, eles enfrentam uma encosta íngreme e são pedidos para pagar 'o fruto dos seus trabalhos'. Tentam e tentam fazê-lo morro acima, mas passam horas escalando em vão. Finalmente, o esforço conquistado por Altheda quando ela torce por seus amigos (especificamente o suor da sua testa) passa-os além do desafio. Então finalmente, eles enfrentam uma correnteza em seu caminho e são pedidos para pagar 'o tesouro do seu passado'. As tentativas de flutuar ou pular a caminho falham, até que Amata pensa em usar a sua varinha para retirar as memórias do amante que a abandonou, e jogá-las na água. (olá, Penseira!) Pedras aparecem na água, e os quatro podem atravessar para a Fonte, onde devem decidir quem toma o banho.

Asha tem um colapso de exaustão e está próxima à morte. Ela tem tanta dor que não consegue ir até a Fonte, e implora aos seus três amigos para não levá-la. Altheda rapidamente mistura uma poção para tentar revivê-la, e a mistura de fato cura a sua doença. Portanto ela não mais precisa das águas da Fonte. (Alguns de vocês vêem onde isto está indo, mas fiquem ligados — Rowling tem mais surpresas armazenadas). Curando Asha, Altheda percebe que ela tem o poder de curar os outros e um modo de ganhar dinheiro. Ela não mais precisa das águas da Fonte para curar sua 'impotência e pobreza'. A terceira bruxa, Amata, percebe que uma vez que ela tirou o seu desgosto pelo seu amante, ela foi capaz de vê-lo pelo o que ele realmente foi ('cruel e infiel'), e ela não precisa mais da Fonte. Ela se volta para o Sr. Azarado e oferece a ele sua vez na Fonte como uma recompensa por sua coragem. O cavaleiro, espantado com sua sorte, banha-se na Fonte e arremessa-se 'na sua armadura enferrujada' (isso é o genial da parte de Rowling — a adição de uma palavra nos dá a engraçada visão do cavaleiro banhando-se com a armadura completa na Fonte) aos pés de Amata e implora por sua 'mão e seu coração'. Cada bruxa realiza os seus sonhos de uma cura, um malfadado cavaleiro ganha conhecimento de sua coragem, e Amata, a bruxa que teve fé nele, percebe que ela encontrou 'um homem digno dela'. Um grande 'feliz para sempre' para os nossos quatro alegres, que partem de 'braços dados' (é particularmente legal como é escrito a mão, com os hífens parecendo braços dados). Mas a história não seria de Rowling se não houvesse um chute no fim: aprendemos que os quatro amigos vivem muito tempo, nunca percebendo que as águas da Fonte “não contêm nenhum encantamento”.

Como em suas histórias, Rowling enfatiza que o poder verdadeiro está situado dentro de nós, não em uma varinha ou em uma mente, e sim no coração. Fé, confiança, e amor dão aos seus personagens a força para encontrar os desafios antes deles. Ela não diz diretamente aos seus leitores, mas a mensagem está claramente ali: se você se permite amar e confiar nos outros, você pode aumentar o poder que já tem. Que linda mensagem para as crianças (e adultos) aprenderem, e oh, que pacote encantador e memorável.


Conto número 3
O Coração Peludo do Mago
Tradução: Guilherme Almeida Farabello


Cuidado caros leitores: Rowling se liga aos Irmãos Grimm pelo seu terceiro e mais escuro conto de fadas. Em "O Coração Peludo do Mago" há poucos risos e nenhuma procura, apenas uma jornada dentro da profunda sombra da alma de um mago. Não há indícios de poeira sobre esta primeira página horrível, em vez disso, vemos um desenho de um coração coberto de pêlos grosseiros e gotejando sangue (mais uma vez, não é realmente fácil de estabelecer um verdadeiro coração, com válvulas e tudo, mas Rowling torna isso fácil, o grosso pêlo e tudo). No fim da página, uma antiga chave com três círculos no topo, que dá um antiquado sinal, deitado numa piscina de sangue, o que o torna muito claro que estamos em uma história diferente do que as outras. Não diga que não avisei você ....

No início nós encontramos um belo, hábil, e rico jovem Mago que está constrangido pela insensatez dos seus amigos no amor (Rowling usa a palavra "cabriolados" aqui -- um exemplo perfeito de como ela nunca fala baixo para o seu leitor). Assim, é certo que ele nunca desejou revelar tais "fraquezas" que o jovem Mago usa "Artes das Trevas" para evitar que ele não dê sorte no amor. Fãs devem reconhecer o começo de um preventivo conto aqui -- Rowling explorou muitas lições sobre as borbulhadas experiências de juventude e os perigos de tal poder nas mãos do jovem em seus livros.
Ignorava que o Mago tinha ido a este grau para proteger-se, a sua família tratava com menos importância suas tentativas de escapar do amor, pensando que a menina certa irá mudar sua mente. Mas o Mago cresce orgulhoso, convencido da sua inteligência e impressionado com o seu poder de concluir total indiferença. Com o passar do tempo o Mago viu seus companheiros casar e ter as suas próprias famílias, ele permanece bastante satisfeito consigo mesmo e sua decisão, se considerando sortudo de estar livre da carga emocional que ele acredita que se acaba ao tempo e que fere o coração dos outros. Quando o seus velhos pais morrem, ele não lamenta , mas em vez disso, se sente "abençoado" por suas mortes. Neste ponto do texto, a mão de Rowling muda um pouco e a tinta na página aparece ligeiramente mais escura. Talvez ela esteja pressionando demais -- talvez ela esteja com medo e pressionada pelo seu jovem Mago como estamos?

Quase todas as sentenças à esquerda na página estão perto da dobra do livro, como lemos sobre como o Mago torna-se muito confortável em seus pais mortos, transferindo o seu "maior tesouro" para o seu calabouço. Na face da página, quando aprendemos que o Mago acredita- se ser invejado por sua "excelente" e perfeita solidão, vemos o primeiro sinal de gaguice na escrita de Rowling. É como se ela não pudesse ostentar a escrever a palavra "excelente", uma vez que é tão evidente que não é verdade. O Mago é iludido, tornando-o ainda mais perturbado quando ouve dois agentes tagarelando – há uma pena sobre ele, e os outros fazendo piadas dele por não ter uma esposa. Ele decide de uma vez para "arranjar uma esposa", presumivelmente a mais bela, rica, e talentosa mulher, a fim de torná - lo o "invejado de todos".

Como ele teria sorte, grande parte do dia seguinte o Mago procurou uma bonita, habilidosa e rica bruxa.Vendo-a como o seu "prêmio", o Mago prossegue a ela, para que convença aqueles que sabem que ele é um homem mudado. Mas a jovem bruxa -- que é tanto "fascinada e repelida" por ele -- ainda sente seu afastamento, mesmo quando ela concorda em dar uma festa no castelo dele. Na festa, entre as riquezas da sua mesa e e a arte dos menestréis jogarem, o Mago procura obter a bruxa. Finalmente, ela confronta ele, sugerindo que ela poderia confiar nas encantadoras palavras dele só se ela achar que ele "tem um coração". Sorrindo , (e ainda orgulhoso), o Mago leva a jovem camareira ao calabouço, onde ele revela uma mágica "caixinha de cristal ", em que reside o seu próprio "batimento cardíaco". Nós advertimos você de que este ia ser um conto escuro, certo?

A bruxa está horrorizada com a visão do coração, que virou enrugado e peludo na permanência de seu corpo, ela pede ao Mago para "colocar o coração de volta". Porque ela sabia que isso ia ajudar a valorizá-lo para ela , o Mago "abriu" seu peito, com sua varinha e colocou o "peludo coração" dentro. Emocionada que o Mago podia agora sentir amor, a jovem bruxa o abraça (surpreendente, uma vez que estamos claramente gritando "Se afaste dele!" agora há pouco ), e o horrível coração "se perfura" pela beleza de sua pele e o aroma de seus cabelos. "Cresceu estranho" depois de ser desconectado do seu corpo durante tanto tempo, e agora o "cego" e "perverso" coração tem uma selvagem ação. Se pudéssemos terminar aqui, e permitir-lhe a apenas saber sobre os destinos da jovem bruxa e o Mago com o coração peludo , mas Rowling marcha sobre a história, como os convidados na festa sabem sobre o seu acolhimento. Horas mais tarde, eles pesquisam o castelo e os encontram no calabouço. No terreno chora a morta donzela com seu peito cortado Agachado ao lado dela está o "louco Mago " cuidando e lambendo seu "brilhoso e escarlate coração" e planejando para mudá-lo para si. Seu coração é forte, porém, ele recusa-se a deixar o seu corpo. O Mago jura nunca ser "dominado" por seu coração, aproveita um punhal e corta o seu peito, deixando-lhe brevemente vitorioso, um coração em "cada mão sangrenta" antes de ele cair sobre a donzela e morrer. O último parágrafo descrevendo a morte do Mago é o primeiro que parece desigual -- os manuscritos se inclina acima e à direita ligeiramente suficiente que é perceptível, o que termina fazendo sentir- se ainda mais brusco e inquietante.

Rowling, como a maioria dos grandes escritores de conto de fadas, não tem pena do malvado. Agindo fora de orgulho e egoísmo, desde o início da história, isolando e endurecendo-se contra todos os sentimentos, o Mago abriu- se até à loucura, posteriormente tomando uma vida inocente, e destruindo-se no processo (soa como qualquer outro vilão que você encontrou?). Tal como acontece com as outras histórias que temos lido, o segredo reside no imaginário, tanto reais e imaginários (especialmente depois de ver os desenhos da primeira página). A perturbadora e indelével visão do louco Mago lambendo o sangrento coração se torna rival da escuridão dos irmãos Grimm. Dado que esta história (e de todo o texto, depois de tudo) foi criado para ser um livro de fábulas para jovens magos e feiticeiras, é adequado que Rowling iria fazer uma história sobre o uso indevido das Artes das Trevas, o mais horrível e menos redentor de todos. As Artes das Trevas, como nós fãs bem sabemos, não estão a virar brinquedo nunca.


Conto número 4
Babbitty a coelha, e o tronco que cacarejava
Tradução: Lucas Alves


Um grande tronco de madeira de uma árvore (com vinte formações aneladas - sim, nós contamos) se encontra no topo do quarto e mais longo conto de fadas escrito por Rowling. Cinco raízes parecida com tentáculos se espalham a partir da base, com grama e ervas saindo por debaixo delas. No centro da base do tronco há uma escura rachadura, com dois círculos brancos que parecem dois olhos que focam o leitor. Abaixo do texto há uma estreita e pequena pegada da pata de um animal (com quatro dedos). Não tão terrível quanto o sangrento e peludo coração do último conto (e dessa vez nós de fato vemos poeria estrelar), mas nós não gostamos da aparência desse toco.

'Babbitty a coelha, e o tronco que cacarejava' começa (como em todo bom conto de fadas) há muito tempo atrás e numa longínqua terra. Um ganacioso e 'insensato rei' decide que ele quer manter toda a magia para si próprio. Mas ele tem dois problemas: primeiro, ele precisa de ter poder sobre todos os grandes magos e feiticeiros, e em segundo lugar, ele tinha de realmente aprender a fazer magia. Ao mesmo tempo em que ele forma uma 'Brigada de Caçadores de Bruxas' armado com cães ferozes, ele também anuncia sua necessidade de um 'instrutor em magia' (não muito inteligente, o nosso rei). Habilidosos bruxos e bruxas se escondem em vez de atender o seu chamado, mas um 'esperto charlatão', sem nenhuma habilidade mágica, blefa e consegue seu papel com uns poucos e simples truques.

Uma vez instalado como bruxo chefe e instrutor particular do Rei, o charlatão demanda ouro para suprimentos mágicos, rubis para criar encantamentos e copos de prata para poções. O charlatão guardava esses itens na sua prórpia casa antes de retornar ao palácio, mas ele não percebe que a velha 'lavadeira' do rei, Babbitty, o vê. Ela o observa tirar um galho de uma árvore que ele então apresenta ao rei como sendo uma varinha. Esperto como ele é, o charlatão diz ao Rei que sua varinha não funcionará até que 'sua majestade seja digno dela'.

Todos os dias o rei e o charlatão praticavam mágica (Rowling é realmente brilhante nesse trecho, pois pinta um retrato que mostra o ridículo rei balançando sua varinha e 'atirando sem sentido para o céu'), mas em uma manhã eles ouvem uma risada e vêem Babbitty assistindo de sua casinha, rindo tanto que mal pode se manter em pé. O Rei sentindo-se humilhado ficou impaciente e furioso, e exigiu que o charlatão desse uma verdadeira demostração de magia na frete de seus súditos no dia seguinte. O charlatão desesperado diz que é impossível já que ele precisa partir do Reino em uma longa jornada, mas o agora duvidoso Rei ameaça mandar a Brigada atrás dele. Estando agora furioso, o Rei também ordena que se 'alguém rir de mim', o charlatão será decapitado. E assim, nosso tolo e ambicioso Rei sem mágica revela-se também ser orgulhoso e piedosamente inseguro – mesmo nesses curtos, simples contos, Rowling se mostra capaz de criar complexos e interessantes personagens.

Tentando acabar com sua frustração e raiva, o astuto charlatão vai direto à casa de Babbitty. Olha pela janela, e vê uma 'bem velha mulher' sentada em sua mesa limpando sua varinha, conforme os lençóis 'se limpam' em um balde. Vendo que ela é uma verdadeira bruxa, e ambos a fonte e a solução para seus problemas, ele pede por ajuda, ou ele a denunciará para a Brigada. É difícil descrever completamente esse poderoso ponto de reviravoltas na história (e de qualquer um desses contos, realmente). Tente lembrar da riqueza e da cor dos livros de Rowling e imagine como ela poderia empacotar esses curtos contos repletos de vivas imagens e sutis nuançes de caráter.

Tranqüila com suas reivindicações (afinal, ela é uma bruxa), Babbitty sorri e concorda que fará 'qualquer coisa que estiver ao seu alcançe' para ajudar. O charlatão pediu para ela se esconder atrás de um arbusto e executar todos os feitiços para o rei. Babbity concorda, mas questiona sobre o que irá acontecer se o rei tentar conjurar um feitiço inexistente. O charlatão, sempre convencido de sua própria esperteza e da burrice dos outros, ri das preocupações dela, afirmando que a magia de Babbitty é certamente mais poderosa do que qualquer coisa que 'a imaginação daquele burro' possa sonhar.

Na manhã seguinte, os membros do tribunal se reuniram para testemunhar os poderes mágicos do rei. Em um palco, o rei e o charlatão realizaram seu primeiro ato mágico - fazendo o chapéu de uma mulher desaparecer. A platéia ficou espantada, e ao mesmo tempo admirada, jamais imaginando que Babbitty estaria se escondendo atrás de um arbusto, e que ela estava realizando a mágica. Para o próximo feito, o rei aponta seu 'galhinho' (toda referência a isso nos maravilha) em seu cavalo, elevando-o no ar. Pensando em uma idéia ainda melhor para o terceiro feitiço, o rei é interompido pela Capitão da Brigada, que segura o corpo de um dos cães de caça do rei (morto por um cogumelo envenenado). Ele implora ao Rei para trazer a vida de volta ao cão, mas quando o Rei aponta o galho para o chão, nada acontece. Babbitty sorri em seu esconderijo, e nem mesmo tenta realizar o feitiço, pois ela sabe que 'mágica nenhuma pode recussitar os mortos' (pelo menos não nessa história). A platéia começa a rir, suspeitando que os dois primeiros feitiços foram apenas brincadeiras. O Rei ficou furioso, e quando exige saber a razão da mágica ter falhado, o astuto e enganador charlatão aponta para o esconderijo de Babbitty e grita que aquela 'bruxa má' está bloqueando os feitiços. Babbitty sai correndo de trás do arbusto, e quando os Caçadores de Bruxas envia os cães atrás dela, ela desaparece, deixando os cães 'latindo e lutando' na base de uma velha árvore. Desesperado agora, o charlatão grita que a bruxa se transformou em uma 'maçã ácida' (o que mesmo nesse tenso e dramático ponto gera um riso). Temendo que Babbity se transformasse de volta em uma mulher e o expusesse, o charlatão ordena que a árvore seja cortada – porque é assim que se 'tratam bruxas más'. Essa é uma cena muito poderosa, não apenas pelo drama 'corte sua cabeça!', mas porque a habilidade do charlatão em causar um tumúlto na multidão é evocativa de todos os tribunais de bruxas reais. Como o drama é construído, a letra de Rowling parece levemente menos polida - os espaços entre as letras de suas palavras aumenta, criando a sensação de que ela está criando a história conforme escreve, levando as palavras ao fim da página o mais rápido que consegue.

[Alerta de Spoiler!] A árvore é derrubada, mas conforme a platéia se direciona ao palácio novamente, uma 'alta gargalhada' pôde ser ouvida, desta vez, dentro do tronco. Babbitty, sendo uma bruxa muito esperta, grita que bruxas e magos não podem ser mortos por serem apenas 'cortados ao meio', e para provar isso, ela sugere que cortem o instrutor do rei “em dois”. Nisso, o charlatão implora por piedade e confessa. Ele é arrastado para a masmorra, mas Babbitty não terminou com o tolo rei. Sua voz, ainda saindo do tronco, proclama que as ações do Rei invocaram uma maldição no reino, e cada vez que ele causar danos a um bruxo ou bruxa ele também sentirá uma dor tão cruel que desejará 'morrer por isso'. O agora desesperado Rei cai de joelhos e promete proteger todos os magos e bruxas de seu território, permitindo-lhes fazer qualquer mágica, sem danos. Alegres, mas não completamente satisfeitos, o tronco cacareja novamente e exige que uma estátua de Babbitty seja colocado sobre ele para lembrar o Rei de sua 'própria tolice'. O 'envergonhado Rei' promete trazer um escultor para criar uma estátua de ouro, e volta para o palácio com sua corte. No fim, uma 'gorda e velha coelha', com uma varinha presa aos dentes sai do buraco de baixo do tronco (ahá! a fonte destes minúsculos olhos brancos) e deixa o reino. A estátua dourada permaneceu no tronco para sempre, e feiticeiros e magos nunca mais foram caçados no reino.

'Babbitty a coelha, e o tronco que cacarejava' destaca a disfarçada ingenuidade da velha bruxa – que deve recordar os fãs de um certo sábio e habilidoso bruxo – e vocês podem imaginar como a velha Babbitty pode se tornar uma heroína para jovens bruxos e bruxas. Mas mais do que apenas uma história sobre o triunfo de uma bruxa inteligente, a história adverte contra as fraquezas humanas, como a ganância, arrogância, egoísmo e duplicidade, e mostra como esses errantes (mas não maus) personagens podem vir a aprender com seus próprios erros. O fato de que o conto vem logo depois do louco mago, enfatiza a importância que Rowling sempre colocou em alerta-próprios: Babbitty revela ao Rei sua arrogância e ambição, assim como o Caldeirão Saltitante expõe o egoísmo do bruxo e o Poço desvenda as forças escondidas das três bruxas e do cavaleiro. Dos primeiros quatro contos, apenas o mago de coração peludo sofre um verdadeiro destino horrível, pois seu imperdoável uso de Arte das Trevas e sua recusa em descobrir seu verdadeiro eu tiram dele a possibilidade de redenção.


Conto número 5
O Conto dos Três Irmãos
Tradução: Lucas Alves


Se, assim como nós, você passou correndo em sua primeira leitura de'O Conto dos Três Irmãos' no caminho para chegar no final de todos os finais, então você perdeu um grande conto (que achamos que pode estar entre os melhores de Esopo). Você tem sorte, pois pode abrir seu exemplar de Harry Potter e as Relíquias da Morte no capítulo vinte e um e lê-lo a qualquer hora que você quiser. Se você ainda não leu o último livro da série de Rowling (e que banquete está a sua espera), você pode não querer ler esse resumo... por enquanto. Dê a você mesmo a chance de ler o conto dentro do contexto primeiro. Você não se decepcionará.

Três crânios cheio de dentes fitam o leitor no topo do último dos cinco contos (como desejamos que houvessem dúzias de contos). O crânio do meio tem um símbolo esculpido em sua testa - uma linha vertical em um círculo, enclausurado por um triângulo. Debaixo do texto há uma pilha de tecido, sob o qual há uma varinha (que jorra faíscas), e o que se parece com uma pequena pedra.

Esse misterioso conto dos três irmãos, três escolhas e três destinos pede para ser lido em voz alta - de fato, na primeira vez que encontramos os irmãos é quando Hermione lê o conto para Harry e Rony (e Xenofílio). Três irmãos viajavam ao longo de uma estrada tortuosa ao 'anoitececer’ (à meia-noite, como conta a versão da Sra. Weasley) chegam a um 'traiçoeiro' rio que eles não podem atravessar. Como bons magos, eles criam uma ponte com um simples agito de suas varinhas. Na metade do caminho, eles encontram um 'vulto encapuzado'. A Morte está zangada e fala aos irmãos (momento muito engraçado em Relíquias da Morte, quando Harry fala: "Desculpe, mas a Morte fala?") que eles haviam lhe roubado 'novas vítimas', já que as pessoas sempre morriam ao tentar atravessar o rio. Mas a Morte é esperta e oferece um prêmio para cada um por sua inteligente capacidade de 'escapar' (para quem se interessa por detalhes, diferente do livro, a nossa versão diz 'escapar' ao invés de 'fugirem'). Nosso conto predileto tem o mesmo tipo de trama 'escolha seu destino' – você pode aprender tanto sobre um personagem por uma única escolha e as melhores histórias, como essa, nos conduz para um caminho completamente diferente do que você pensa que eles estão indo, em direção a um final que você jamais poderia esperar.

O irmão mais velho, um homem 'forte' pede pela varinha mais poderosa que jamais foi criada - uma varinha que vencerá todos os duelos para seu dono, uma varinha digna de quem 'venceu a Morte'. Então a Morte cria a varinha de uma 'árvore muito Antiga' (como está em nossa cópia) e dá-a ao irmão briguento e prepotente. O segundo irmão, um homem 'arrogante' que está determinado à humilhar ainda mais a Morte, pede o poder de restituir a vida aos que ela levara. Pegando uma pedra da terra, a Morte diz ao irmão que ela tem o poder de recussitar os que já morreram. O irmão mais novo, o mais humilde e sábio de todos, não confia na Morte, e pediu algo que lhe permitisse sair daquele lugar sem ser 'seguido pela Morte'. Sabendo que ele devia ser o mais inteligente, a Morte lhe entrega a própria capa da invisibilidade de 'nada bom grado' (ao contrário de ‘má vontade’ no Livro 7). A escolha de cada irmão revela muito acerca de suas motivações: o irmão mais velho quer a Varinha das Varinhas para torná-lo poderoso sobre todos os demais, o segundo irmão quer ter poder sobre a Morte; e o terceiro irmão quer deixar a Morte para trás seguramente.

[Alerta de Spoiler!] Então os irmãos pegam suas 'Relíquias da Morte' e partem para caminhos diferentes, destinos diferentes. O primeiro viaja para uma certa vila ('distante' segundo o sétimo livro) e procura um colega bruxo com quem teve uma briga, para vencê-lo em um duelo que ele 'não poderia deixar de ganhar'. Depois de matar seu inimigo, ele foi à uma estalagem, e se gabou por ter a Varinha das Varinhas e de como a ganhou da 'própria Morte'. Na mesma noite, outro bruxo se aproxima do irmão e lhe toma a varinha, cortando seu pescoço por precaução. A perseguição pára, onde Rowling descreve a morte levando o irmão 'para si', ajuda tanto a ancorar a história como um conto admonitório, como também ensina lições sobre a morte irreversível. Uma das mais importantes mensagens desse conto, e deste irmão, em particular, é a noção do uso do poder para o bem (aconselha Rowling claramente levando a questão a sério).

O segundo irmão chega à sua casa 'vazia', e vira a pedra 'para cima três vezes' (o livro 7 omite o 'para cima'), usando-a para chamar os Mortos ('Mortos' com letra Maiúscula em nosso exemplar). Ele está ansioso em testemunhar o retorno da mulher com quem uma vez queria se casar. Mas então, ela é 'silenciosa e fria' ('triste', no sétimo livro) e sofre porque não pertence mais ao 'mundo dos mortais'. Enlouquecido e desesperado, se mata para poder verdadeiramente se unir a ela, permitindo que a Morte vença sua segunda vítima.

O irmão mais novo usa a capa da invisibilidade (mesmo aqueles de vocês que não leram o sétimo livro ainda, podem perceber que este não poderia ser somente um conto de fadas afinal) para esconder-se da Morte 'até uma idade muito avançada' e a despe para dar ao seu filho como presente. Depois, ele segue em direção a Morte de 'bom-grado', a recebendo como uma velha amiga, e juntos 'partem desta vida'. Um final tão satisfatório para esse conto – ele ainda ‘nos toca’ mesmo depois da segunda leitura – Simples, poderoso e penetrante, 'O Conto dos Três Irmãos' introduz teorias sobre o uso e abuso do poder (também forte na série) e compartilha importantes mensagens de vida e morte. Este conto informa e acrescenta à Harry Potter e as Relíquias da Morte (os curiosos devem reler o capítulo 35 de Harry Potter e as Relíquias da Morte, “King’s Cross”, e discutir), mas nosso favorito é destacado pela mensagem que o próprio Dumbledore diz para Harry referente a aceitar a morte e abraçar a vida: 'Não tema a morte, Harry. Tema os vivos, e principalmente, aqueles que vivem ser amor'. O irmão mais novo não tenta trapacear a Morte ou fazer o mal aos outros com seu poder; ao invés disso, ele usa o presente para simplesmente viver, sem prejudicar a morte. Assim, após uma longa e bela vida, ele foi capaz de ir de bom grado deste mundo.

É um verdadeiro testamento para o talendo de Rowling, que seus contos de fadas transportem uma mensagem muito forte, mas nunca se mostrem como lições de moral ou evidentemente didáticos (isso vale em dobro para seus livros, e é, em parte, por isso que eles são tão especiais). Os Contos de Beedle - O Bardo transmite diversas lições presentes também na série Harry Potter, e as histórias repercutem com o aviso de Dumbledore sobre a escolha entre o que 'é certo e o que é fácil'. No fim das contas, está alertando contra a arrogância e a ganância, revelando as responsabilidades que vem junto com o poder, ou exaltando a importância do amor e da fé em cada pessoa. A imaginação sem limites de Rowling e a habilidade na narração de histórias mantém os seus leais fãs (jovens ou mais velhos) esperando por mais, sempre mais ansiosos para a próxima lição.